quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Qual a pior coisa que eu posso dizer ?

Eu transformava tudo aquilo que havia me acontecendo numa bela equação árida, cínica, muito adequada. Além disso, sentia-me extraordinariamente disposta. Aceitava todas aquelas tristezas, todos aqueles conflitos, todos aqueles prazeres em marcha, aceitava tudo previamente, com derrisão. Sem contar que estou doente, sim, peguei uma baita gripe após minha incrível decisão de ir tomar banho de chuva, tive febre o dia todo, ela cessava e voltava .Só que não me arrependo nem por um milésimo de segundo do que fiz. Bem li até o fim da tarde. Larguei o livro, apoiei a cabeça no braço, fiquei contemplando o céu cinzento. E inopinadamente me senti fraca e indefesa. Minha vida fluía, e eu não fazia nada a não ser troçar.
Ter alguém assim contra o meu rosto... Para retê-lo, apertá-lo de encontro a mim, com a lancinante violência do amor...
Me levantei e saí.
Como toda pessoa que vive de suas comédias inacabadas, não podia suportá-las senão escritas por mim. Apenas por mim.
De mais a mais, eu sabia muito bem que aquele divertimento - se divertimento havia - era perigoso.
De repente, o tempo voltou, o interesse era outro. E houve de novo os minutos, as horas, os cigarros.
Eu ainda era a Dona Laiz Martins Ninguém-de-Lugar-Nenhum. Mas eles ainda querem o que eu quero, só que não é meu. Parecem um bando de cães de caça tentando engolir um cheiro.
Não adianta se lamentar. Seja o que for, tem muito mais em algum lugar.
O truque está em viver o suficiente para poder colocar os seus blefes de jovem em uso.
No fundo, viver era arranjar-se o mais satisfatoriamente possível. Parecia tão fácil, agora.


0 comentários:

Postar um comentário