segunda-feira, 2 de maio de 2011

Subsídio

Um é placidez dos lençóis. Outro é o estremecer da nudez. Um é a resposta da carícia na pele. Um é o segredo do oculto. Outro é a revelação do exposto. Um é o suspiro. Outro é o arquejo. Um é a espera. Outro é perigo. Um é o amor. Outro é a paixão. Ela quer os dois.

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Pega um cigarro, custa a acendê-lo. Não consegue controlar o tremor das mãos.
Dá uma espiadinha no espelho do carro, ajeita o cabelo despenteado pela ventania. Paciência! Depois se arruma melhor. O importante é que está ali. Apóia a cabeça no encosto do banco, respira fundo. No rádio: ''Lucy in the sky with diamonds''. Ouve atento, em busca de descontração. Não quer que ela perceba como está tenso. Disfarça. Tenta uma conversa impessoal, procura ser lúcido, brilhante. Não é nada disso.
Dirige devagar. Troca a marcha inexperientemente. O carro parece tão grande para ele. Com aquela cara de menino.
Chegados no apartamento dela, ele respira aliviado. Tenta aparência natural. Observa móveis, quadros, aparelhos de som, discos... Separa: Caetano Veloso, Chico Buarque, The Carpenters, Beatles e Arnaldo Antunes. Ela abre o uísque e o serve. Algumas almofadas pelo chão. Senta-se, tira os sapatos, ajeita a camisa. Are you sure didn't make it up yourself? - ouve. E vai sofreando perguntas, essas perguntas tolas que os homens fazem ou têm vontade de fazer: é seu apartamento? Você vem sempre aqui? Procura se convencer de que isso não importa. Pega o copo de uísque, põe no chão a seu lado. I'm standing in the wind, but I never wave bye-bye, but I try, I try - começa a cantarolar.
Ouve e bebe com certa sofreguidão. Talvez lhe faça bem.
Na penumbra da sala, pára o seu cigarro, onde uma cinza comprida parecia querer cair a qualquer momento. A moça sorri.

 




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